terça-feira, 12 de junho de 2007

Cornucópia


Sou um amontoado de coisas gastas e esquecidas, como num velho baú de quinquilharias.
Sentimentos guardados, palavras não ditas, cartas não remetidas...
Dores, que pararam de doe de tão enferrujadas, como antigas tampinhas de refrigerantes...
Sou feito de sabores também! De um chocolate esquecido na mochila ou dos caramelos que uma estranha insistiu em compartilhar no metrô... Mas também do amargo sabor de ver um amigo partir pra sempre ou de ver sua esperança se levantar da mesa e caminhar pra longe...
Tenho em mim um mosaico de cores-- de um castanho tão doce quanto mel à um vermelho tão intenso que fere...
Há também uma lista de nomes, como se fossem cromos em um antigo álbum de coleção. Alguns são meus por direito, outros me foram ofertados, alguns são espólios de minhas batalhas e outros ainda, sequer me pertencem de verdade...
Sou amarelado pelo tempo, como as páginas de um velho livro de cabeceira, cuja historia teima em se repetir, mesmo já sendo conhecida...
Essa é minha sina... ser minha cornucópia avocante, jorrando ego.



Imagem:La Reproduction Interdite, - MAGRITTE, Renné

domingo, 10 de junho de 2007

Hiperálgico


Os dias são longos e frios...
Tanto que me fazem falar mais devagar, ora ofegante, ora receoso--
Dias (e noites) cheios de delírios, como aqueles dos dias de febre...
Aqueles que nos fazem ver coisas.
Seria até bom, se eu não fosse um tanto paranóico e tudo que eu visse não fosse apenas você indo sem nem mesmo ter chegado...
Eu quase posso vê-la nesses delírios.
Mas tudo que consigo é sentir seus lábios me tirando o fôlego enquanto te chamo:
- Dor...

Mnemônico II


Minha mente me trai--
Mão me lembro das coisas como realmente aconteceram.
Me lembro que era verão, mas em minha memória, folhas sempre estão caindo.
Chovia forte, mas me lembro de uma lua enloquecedora!
Me lembro dos seus lábios, sua língua, seu sabor...
Mas sei que você nunca esteve lá...